fotos Emanuel
O fator preponderante
para a construção da Ferrovia Santos-Jundiaí foi a expansão do café, que chegou
ao Rio de Janeiro no início do século XIX e logo se espalhou pelo vale do Rio
Paraíba. A próxima região ocupada pela cultura cafeeira seria o oeste paulista,
já bem no interior do estado. A partir daí, tornou-se urgente encontrar um meio
de escoar o café com maior facilidade para o Porto de Santos. O mercado no
exterior era certo, mas o produto levava dias de viagem em tropas demuares até
o litoral.
Os
primeiros estudos para a implantação da ferrovia começaram em 1835, mas foi
apenas depois de 1850 que a idéia começou a sair do papel, graças ao espírito
empreendedor do Barão de Mauá. Ele encontrou nos ingleses os parceiros ideais
para executar o projeto. Além de ter interesses em dinamizar o fluxo de
exportação e importação brasileiro, a Inglaterra detinha uma vasta experiência
na construção de ferrovias, utilizando a tecnologia da máquina a vapor - algo
imprescindível para vencer as dificuldades técnicas impostas pelo desnível de
796 metros entre o topo da serra e o litoral. Em 26 de abril de 1856, a
recém-criada empresa inglesa São Paulo Railway Co. recebia, por um decreto
imperial, a concessão para a construção e exploração da ferrovia por 90 anos.
As
obras tiveram início em 1860, comandadas pelo engenheiro inglês Daniel M. Fox.
Dadas as características extremamente íngremes do trecho da serra, optou-se
pela adoção do chamado sistema funicular: o percurso foi dividido em quatro
planos inclinados, cada um com uma máquina fixa a vapor que tracionava as
composições através de cabos de aço.
A vila de Paranapiacaba
era inicialmente apenas um acampamento de operários. Depois da inauguração da
ferrovia, em 1867, houve a necessidade de se fixar parte deles no local para
cuidar da manutenção do sistema. Assim, construiu-se a Estação Alto da Serra,
que também foi o primeiro nome dado ao lugarejo. Por causa da sua localização,
último ponto antes da descida da serra, a vila começou a ganhar importância.
Também nesta época foi fundada, em torno da estação São Bernardo, a futura
cidade de Santo André, à qual a vila de Paranapiacaba pertence hoje.
Enquanto
isso, a ocupação no interior do estado se consolidava, graças à estrada de
ferro. O comércio e a produção agrícola aumentaram significativamente. Em pouco
tempo já era preciso duplicar a ferrovia.
fotos Luís Ricardo 2015
engenheiro-chefe,
chamada de Castelinho, de onde toda a movimentação no pátio ferroviário poderia
ser observada. Na mesma época, foi erguida a Vila Martim Smith, com casas em
estilo inglês, de madeira e telhados em ardósia, para servir de moradia aos
funcionários da empresa. Em 1900, o novo sistema de planos inclinados é
inaugurado, recebendo o nome de Serra Nova.
Do
outro lado da estrada de ferro, a Parte Alta de Paranapiacaba, que não
pertencia à companhia, seguia padrões arquitetônicos diversos daqueles da vila
inglesa. A área começou a ser ocupada por comerciantes para atender os
ferroviários já na década de 1860. Ali também moravam os funcionários
aposentados, que não poderiam mais usar as casas cedidas pela empresa.
Até
meados da década de 40, os moradores viviam ali como uma grande família. A vila
era bem cuidada, com ruas arborizadas e casas pintadas. O clube União Lira
Serrano era o centro de uma intensa atividade sócio-cultural: bailes, jogos de
salão, competições esportivas, encenações teatrais, exibições de filmes e
concertos da Banda Lira. Outro importante ponto de encontro, para fechar um
negócio ou conversar sobre política e futebol, era a Estação. Nas noites de
sábados e domingos, moços e moças bem alinhados, interessados em namorar,
caminhavam pelas plataformas largas, como relata João Ferreira, antigo morador
da vila.
Podemos ver na imagem
de cima que muito da história de Paranapiacaba se mantem viva como por exemplo
os nomes de indicação das localidades de cada ponto da vila e também as casas
que pouco foram alteradas e continua sua preservação restaurando somente a
pintura.
Em
1946, termina o período de concessão da São Paulo Railway Co. e todo seu
patrimônio é incorporado ao da União. Este fato é apontado pelos antigos
moradores como o início da decadência da vila. Com a desativação parcial do
sistema funicular, na década de 70, mais um golpe: parte dos funcionários é
dispensada ou aposentada e outros são contratados, para cuidar do novo sistema
de transposição da serra - a cremalheira-aderência.
Nos anos 1980, depois de várias denúncias na imprensa sobre a deterioração da
vila, é criado o Movimento Pró-Paranapiacaba. Em 1986, a Rede Ferroviária
entregou restaurados o sistema funicular entre o 4° e o 5° patamares e o
Castelinho. No ano seguinte, o núcleo urbano, os equipamentos ferroviários e a
área natural de Paranapiacaba foram tombados pelo CONDEPHAAT - Conselho de
Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo.
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário